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Markus Lothar Fourier

Por que fazer terapia de grupo?

Atualizado: 25 de jul.

Minha experiência como paciente em terapia de grupo me tornou um psicólogo fã dessa modalidade. Acredito que todos em busca de processos de desenvolvimento deveriam experimentar esse tipo de psicoterapia; ela tem características e benefícios específicos. Irvin Yalom resumiu os benefícios da terapia em grupo em 11 fatores terapêuticos. Aqui está um resumo desses elementos, que possivelmente atrairão seu interesse para experimentar esse método de desenvolvimento.


Os 11 fatores terapêuticos de Irvin Yalom:


1. Instilação de esperança

A esperança da resolução do problema é um ponto essencial para que o processo tenha resultados. Ela não apenas mantém a pessoa no processo, dando tempo para que os efeitos comecem a surgir, como também é, em si, um fator ligado à melhora da pessoa. Existem diversas pesquisas apontando que a expectativa do paciente aumenta a chance de este conseguir os resultados desejados.


2. Universalidade

A terapia em grupo é uma excelente forma de constatar a universalidade de nossos sofrimentos e angústias. Naqueles que iniciam um processo terapêutico, existe a ideia de que suas questões são particulares e que são uma aberração ou seres raros e mal-afortunados. Embora todas as pessoas possuam particularidades, e não seja possível comparar os sofrimentos, há também muitas coisas em comum em nossas dores. Essa constatação leva geralmente a um alívio e à sensação de que não estamos sozinhos.


3. Compartilhamento de informações

Nos grupos de terapia, há o uso da instrução didática sobre saúde mental e doenças mentais fornecida pelos terapeutas. Adicionalmente, é possível encontrar aconselhamento, sugestões e orientação direta do terapeuta ou outros membros do grupo. Esse processo de psicoeducação é bastante útil para inúmeras situações e empodera as pessoas para que elas aprendam a manejar melhor suas questões.


4. Altruísmo

A terapia de grupo é um excelente lugar para que as pessoas tenham a experiência de estar ajudando e não apenas serem ajudadas. Para muitos, este aspecto é terapêutico, fornecendo uma sensação de valor e poder que pode faltar em suas rotinas diárias.


5. Recapitulação corretiva do grupo familiar primário

Um fator terapêutico potente dos grupos reside na possibilidade de reviver e corrigir os modelos familiares não saudáveis. Em um grupo de terapia, é possível encontrar aqueles que ocupam lugares de autoridade, como os terapeutas ou co-terapeutas, e aqueles que ocupam lugares mais maternos ou fraternos. Ao longo da terapia, as pessoas replicam comportamentos familiares uns com os outros. Isso abre a oportunidade de identificar, observar e praticar novos padrões relacionais.


6. Desenvolvimento de técnicas de socialização

Toda terapia em grupo permite a aprendizagem de habilidades de socialização. Alguns grupos têm esse objetivo definido, como grupos temáticos que auxiliam pessoas com dificuldades em iniciar uma paquera. Outros grupos, embora não possuam essa finalidade, permitem indiretamente esse desenvolvimento. Durante uma sessão, é comum receber feedback sobre como o desafio de olhar nos olhos provoca desconfiança. Esse mesmo indivíduo pode identificar um obstáculo em outro ser humano que também exista nele. Essas trocas e percepções permitem a ampliação da consciência e geralmente iniciam um movimento que tende a ser positivo, se o grupo for bem conduzido. As técnicas de role-play são comuns nesses casos e permitem que se experimentem e treinem determinados comportamentos.


7.Comportamento imitativo

Além da ampliação da consciência sobre si, os grupos permitem a observação e imitação de comportamentos considerados adequados. Soma-se a isso o fato de que os grupos são lugares seguros para se experimentar, errar, receber feedback e corrigir as atitudes indesejados. Muitos sofrimentos e problemas vêm de comportamentos inadequados, que geram constrangimento ou desconexão com as pessoas. Quando essas condutas são ajustadas, há uma resposta imediata do meio, o que reforça sua repetição, estimula a criação de um novo hábito e ainda reflete no aumento da autoestima do indivíduo. Sem o apoio do grupo, tentativas de estabelecer novas relações podem frequentemente falhar e desencorajar a mudança.


8.Aprendizagem interpessoal

Além dos comportamentos imitativos e das técnicas de socialização, grupos terapêuticos também permitem uma aprendizagem relacional. Em outras palavras, grupos de terapia facilitam as pessoas aprenderem a desenvolver intimidade nas relações. Eu não estou falando de intimidade romântica, mas sim daquela que cria um sentimento de conexão e segurança, permitindo-nos ser autênticos em nossas relações com os outros.


9.Coesão grupal

A coesão grupal pode ser resumida como o sentimento de pertencimento a um grupo. É quando sentimos que temos um lugar e papel, em um determinado contexto e grupo de relações. Pertencer é uma das necessidades básicas do ser humano. Sem um senso de pertencimento, podemos nos desestabilizar significativamente, o que torna essa sensação um dos elementos mais eficazes na terapia de grupo. Para muitas pessoas esse sentimento é raro ou até mesmo desconhecido, pois nunca tiveram essa experiência na vida.


10.Catarse

Em grupos coesos, a expressão de sentimentos em qualquer intensidade se torna possível, o que favorece o alívio das tensões psíquicas. Esse processo de catarse não é exclusivo da terapia de grupo, tão pouco é capaz, por si só, de gerar mudanças, mas quando bem manejada pelo terapeuta e pelo grupo é um passo importante para que se alcance uma condição mais saudável. A particularidade dos grupos nessas manifestações ocorre porque estabelecemos diferentes relações com cada uma das pessoas e isso aumenta a chance de que memórias e emoções esquecidas sejam acessadas.


11.Fatores existenciais

O 11º fator terapêutico, remete às questões existenciais da vida. Perdas, doenças e outras limitações da condição humana são vivenciadas mais frequentemente em grupo, pois podem surgir de todos os lados, e não apenas da experiência de uma única pessoa, como na terapia individual. Esses constantes confrontos com a Vida favorecem o surgimento da aceitação em relação àquilo que não se pode mudar e também ajudam no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento mais saudáveis. Passamos a enfrentar as coisas como elas são e não como gostaríamos que elas fossem. Ficamos menos paralisados ou destrutivos diante das impossibilidades, e buscamos um caminho possível e satisfatório para seguir vivendo a vida, um caminho que seja espontâneo e criativo.


O que você achou? Ficou com vontade de experimentar? Se a resposta for sim, você pode encontrar profissionais que atendem em grupo, como eu, pesquisando no Google ou no site do CRP do seu estado. E nem precisa esperar terminar o distanciamento social. Muitos psicólogos seguem com os grupos em formatos on-line. Espero ter te ajudado ;-)



 

Referência: Psicoterapia de Grupo: teoria e prática - por Irvin D. Yalom e Molyn Leszcz - Artmed, 2007.

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