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Markus Lothar Fourier

Por que atletas de alto rendimento devem investir na Psicologia?

As olimpíadas de Paris representaram um marco na história da psicologia do esporte. Foram inúmeras declarações de atletas, brasileiros e de outras nacionalidades, reconhecendo a importância de seus psicólogos para suas carreiras esportivas e seus respectivos desempenhos durante as competições na capital francesa. Na mesma linha, vários jogadores de futebol, um esporte resistente à ciência do comportamento de maneira geral, admitiram que o suporte em saúde mental foi crucial para que eles superassem obstáculos em suas carreiras. Mais recentemente, ainda me deparei com uma reportagem na qual o tenista russo, Andrey Rublev, falou de sua luta contra a depressão e como isso afeta sua atuação em quadra. Neste texto, quero dar meus 10 centavos de contribuição para esse movimento e encorajar mais atletas a buscar a psicologia como forma de apoio para suas respectivas atuações e bem-estar mental, que são indissociáveis. É sobre essa conexão entre desempenho e saúde que quero focar.


De maneira geral, a psicologia pode ajudar desportistas de duas maneiras. A primeira delas é por meio do treinamento de habilidades psicológicas, como a regulação emocional, concentração e atenção ou tomada de decisão, por exemplo. Essas são capacidades que toda atividade física focada no desempenho necessita para que o atleta tenha seu melhor rendimento possível. Geralmente, esta parte desperta maior interesse nos profissionais, pois proporciona ganhos perceptíveis aos atletas.


A segunda possibilidade de ajuda que a psicologia pode oferecer aos atletas, é por meio do acompanhamento psicológico ou psicoterapia. Aqui, a resistência é maior, pois se entende que esse processo se destina apenas àqueles em sofrimento psíquico. De fato, se um esportista está com uma questão de saúde mental, como no caso de Rublev, a psicoterapia é necessária. Mas esse processo não precisa ser iniciado única e exclusivamente quando já há um problema. Ele pode ser uma iniciativa preventiva, que evitará o adoecimento. Evitar esse problema psíquico é importante por três motivos principais: o primeiro é que quando estamos em estados mais depressivos, ansiosos ou estressantes, as habilidades psicológicas já citadas aqui tendem a decair. Foi isto que admitiu o tenista russo. Quem segue o tênis, certamente o viu tendo mais episódios de falta de controle emocional em quadra. Além disso, sabemos que a capacidade de concentração, motivação e tomada de decisão ficam prejudicadas também. E assim, não é possível render da melhor forma.


O segundo motivo para a psicologia na prática esportiva é a tendência de problemas psicológicos, como depressão e ansiedade, se cronificarem. Quanto mais demora a busca por ajuda, maior será o tempo de tratamento. Ignorar esses problemas na esperança de que eles desapareçam por si só geralmente não é a melhor solução.


O terceiro motivo pelo qual defendo a psicologia no esporte é que, geralmente, o esporte de alto rendimento não é mentalmente saudável. A busca pela excelência e desempenho máximo cobram um preço alto. Estresse, lesões, frustrações, cobranças, cansaço físico e incertezas são apenas alguns dos fatores que tendem a prejudicar a saúde mental dos atletas. Além disso, todo atleta é, pasmem, um indivíduo que também possui expectativas e desejos pessoais que, por vezes, entram em conflito com suas carreiras. Administrar esses problemas pode ser um desafio significativo, aumentando a ansiedade e o estresse.


Para finalizar minha contribuição, gosto de trazer o seguinte raciocínio. Todos sabem que o funil para chegar em uma posição de destaque é estreito e muitos ficarão pelo caminho, por motivos diversos. Se o desejo é, de fato, ter uma carreira profissional de sucesso, qual a vantagem de negar uma fonte de ajuda? Será que vale a pena assumir o risco de não procurar auxílio da psicologia e, assim, não atingir seus objetivos desejados? Um atleta profissional precisa renunciar a muitas coisas importantes. Dado os muitos sacrifícios, não deveríamos garantir que todas as possíveis ações para melhorar o desempenho estão sendo implementadas?


Passei muitos anos me dedicando ao tênis e, apesar de não possuir talento para ser uma atleta de elite, sei que teria jogado melhor se houvesse prestado mais atenção à minha saúde mental naquele período. Se eu tivesse o apoio de um profissional, os impactos negativos daquele período de fracasso teriam sido minimizados. Foi muito árduo admitir que eu não conseguiria alcançar o que almejava e passei anos deixando de olhar para o futuro para ficar remoendo o passado e me sentindo mal comigo mesmo.


A prática esportiva é benéfica para o ser humano, porém a busca pelo profissionalismo pode ser difícil e dolorosa, mas não necessariamente precisa ser dessa forma. Por isso defendo a psicologia no esporte. Ela permite, mesmo com resultados finais indesejados, elaborar melhor as frustrações remanescentes e aproveitar os aspectos positivos do processo, como o desenvolvimento da resiliência e outras habilidades para seguir em frente com um novo projeto de vida.



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